Cultura Maranhense: Conheça a História e as Festas Populares de São Luís

São Luís é a capital e maior cidade do Maranhão. Além de belezas naturais e arquitetônicas, o viajante deve estar ciente da história e cultura riquíssima maranhense.

Nesse texto vamos abordar alguns aspectos históricos de São Luís e falar dos principais ritmos, festas e celebrações da cidade, tais como o Reggae Maranhense, o Tambor de Crioula, o Bumba Meu Boi e o Cacuriá.

Em 2018 o turismo em São Luís do Maranhão apresentou um crescimento de mais de 100% em relação ao ano anterior, e a promessa é que em 2019 esse número aumente ainda mais.

Nós já visitamos São Luís muitas vezes desde 2012 e até moramos lá por alguns meses e podemos afirmar que a cidade melhorou muito sua estrutura turística e de segurança, principalmente no Centro Histórico.

História de São Luís do Maranhão e a Cultura Maranhense

A Ilha do Amor, como também é conhecida a cidade de São Luís, foi, durante muito tempo, a terceira mais importante economia do país, baseada principalmente no algodão.

Tudo degringolou com o fim da escravatura, pois era o que tornava o comércio tão rentável. São Luís hoje em dia tem a terceira maior população negra no Brasil, ficando atrás só do Rio de Janeiro e de Salvador.

Ainda que tenha sido a capital de um dos Estados mais pobres do Brasil durante quase todo o século XX, a ilha recentemente deu um salto em infraestrutura e ficou bem mais segura.

O motivo? Enfim a dinastia Sarney saiu de lá. Eu estava na ilha no dia em que ocorreu a derrota histórica (parecia que o Brasil tinha ganhado a Copa do Mundo), marcando o fim de uma era. Foram por volta de cinquenta anos de trevas e escuridão no Maranhão.

E essa não é só minha opinião. Quase todo ludovicense lembra onde estava e como celebrou aquele dia.

Aliás, ludovicense é o nome dado ao natural de São Luís. A cidade é tão linda e especial que até o nome tem que ser diferente. Vem de Ludovico (germânico), que seria o antecessor do nome Louis (francês), terminando em Luís (português).

Cultura do Maranhão: Além dos Lençóis Maranhenses

O aeroporto de São Luís é com certeza a melhor forma de chegar aos Lençóis Maranhenses. Por esse motivo, e também a fama que a capital ganhou por conta do desgoverno Sarney, muita gente usa a cidade apenas como dormitório.

Porém isso está mudando, e nessa série de posts sobre São Luís nós vamos mostrar que vale a pena reservar uns bons dias pra conhecer essa deliciosa cidade.

Vai ter dança típica, costumes doidos, comida saborosíssima, praia e até uma miniatura dos Lençóis Maranhenses (as “fronhas maranhenses”).

Duvido então que eu não vá te convencer a conhecer a Ilha do Amor, conhecida também como a Jamaica Brasileira, por conta do reggae, e como a Atenas Brasileira, por ter sido, no fim do século XIX, um local de florescimento de diversos movimentos intelectuais e literários.

Cultura Maranhense: O Reggae

Começando pelo que me atraiu logo de cara quando me mudei pra lá: a cultura do reggae. Jamaica Brasileira é um apelido dado a São Luís, e não é pra menos, porque reggae é a música mais ouvida por lá.

Não é funk, não é sertanejo, não é forró eletrônico. É reggae e reggae e mais reggae!

Até o Sampaio Corrêa, time de futebol mais importante da cidade (que me desculpem os torcedores do Moto Clube), leva em sua camisa e em seu símbolo as cores do reggae.

Apesar de não ser diretamente relacionado, até porque a fundação do Sampaio é antes à chegada do reggae em São Luís. Mas que tem seu simbolismo, isso tem.

História do Reggae em São Luís

São Luís é uma das três capitais brasileiras que ficam em uma ilha. Por conta do isolamento que a condição de ilha impõe e, claro, por estar tão longe das outras cidades importantes do país, as novidades custavam a chegar em São Luís.

Então lá pelos anos 70, alguns habitantes começaram a ouvir, numa frequência do rádio, uma música bem diferente numa língua super estranha. Era uma rádio da Jamaica que tocava reggae!

Logo alguns ludovicenses resolveram dar um jeito de ir pra Jamaica. Voltaram com alguns discos, espalhando o ritmo do reggae na ilha pelas ondas do rádio. Logo esse se tornou o ritmo preferido da população, especialmente entre as classes mais baixas.

Essa é uma das explicações para a popularização do reggae em São Luís. Existem outras, e lá no Museu do Reggae, do qual falamos mais aí embaixo, dá pra curtir essa e outras histórias.

Mas como dançar o reggae? Os ludovicenses ouviam a música, mas não tinham ideia de como os jamaicanos dançavam. Daí pegou-se um pouquinho de forró, um pouquinho de sarração pura e simples, outras danças mil, e surgiu a dança reggae.

A Dança Reggae em São Luís do Maranhão

Em São Luís, é parte da cultura maranhense dançar reggae coladinho. E muito colado mesmo. Sem espaço para malabarismos e piruetas, o reggae é abraçar o parceiro e curtir o embalo da música. Não há muito essa coisa do dançar certo ou dançar errado, então é chegar e cair no reggae.

Todo dia tem uma festa de reggae pra ir. Portanto, dá pra se esbaldar de tanto dançar numa viagem a São Luís. Mais adiante vou falar dos melhores reggaes da ilha.

A Festa Reggae e as Pedras

Curiosamente, quando você vai numa festa reggae, o que toca não é Bob Marley. O reggae na festa tem que ser dançante, e o povo gosta de novidade. Então volta e meia se ouve uns grupos de reggae novos, que, junto com alguns “clássicos” (os ludovicenses chamam de “pedras”), formam a playlist das festas.

Algumas pedras viram pedras porque começaram a tocar nas pistas de dança e a galera aprovou demais. Os DJs disputam entre si quem toca as melhores pedras e estão sempre trazendo músicas novas pra pista por conta disso.

Algumas bandas de reggae internacionais vêm ao Brasil pra tocar só em São Luís e Belém (outro grande antro do reggae “coladinho”).

Duas músicas que conheci lá e que, quando toca a primeira nota, já me dá vontade de sair dançando, são Tell Me When, da banda sueca Root Circus, e Zion Town, do venezuelano Ras Sparrow. É esse o estilo de reggae mais popular em São Luís.

As Melhores Festas Reggae de São Luís

Volta e meia aparece uma festa reggae nova. Mas a melhor de todas, na minha opinião e na de quase todas as pessoas que conheci em São Luís, é a de quinta-feira no Bar do Nelson.

Bar do Nelson

Esse bar de reggae fica na Av. Litorânea, no bairro do Calhau. O bar é de frente pra praia. Fica meio distante do Centro Histórico e o último ônibus pra lá sai cedo demais do terminal. Mas com uns R$25 dá pra chegar de Uber ou táxi.

Sábado também costuma ter reggae lá, porém muito mais cheio (e fica difícil dançar). É bom dar uma conferida na página deles pra confirmar horários e preços.

Em 2019 tomei conhecimento de que o Bar do Nelson passou por uma reforma e mudou muito. Ainda é a referência em reggae na ilha, mas reformaram o espaço todo e ele perdeu um pouco sua característica.

Mas, nas palavras dos amigos ludovicenses: lá continua sendo o melhor lugar para azaração e conhecer gente.

Por um tempo o Bar do Nelson abriu uma filial no Reviver (Centro Histórico), mas não deu certo e já fechou.

Reggae Chama Maré

O Chama Maré, na Ponta d´Areia, sempre foi uma referência na ilha. Um reggaezinho delicioso no fim da tarde de domingo, na praia, com a vista totalmente desimpedida para o pôr-do-sol.

Infelizmente o lugar andou tendo uns problemas recentes de administração e violência. Mas agora em 2019 estão “reabrindo” o lugar. Vale a pena consultar o Instagram deles e perguntar pra alguém como anda por lá.

Outros Reggaes em São Luís do Maranhão

Como e já disse, todo dia tem reggae em São Luís! Alguns dos mais populares são:

• Bar Rotatória e Projeto Agarradinho no restaurante Porto Seguro, ambos próximos ao Mercado dos Peixes;
• Bares próximos ao cais (Bar do Porto, Contraponto etc.), principalmente às sextas;
• Duca Black, no Desterro, que rola sexta e sábado;
• Também tem uns dias bons no Batucafé Brasil, na Fonte do Ribeirão.

Como tudo muda muito rápido na Ilha do Amor, é melhor se atualizar com o pessoal do seu hostel/hotel ou o povo local sobre qual é a melhor festa reggae no momento.

Museu do Reggae

O primeiro Museu do Reggae fora da Jamaica fica em São Luís do Maranhão e foi inaugurado no começo de 2018.

Fizemos uma visita guiada ao local e aprendemos um pouco mais sobre o principal ritmo da Ilha do Amor. Falamos mais sobre essa visita no post São Luís do Maranhão: Centro Histórico, Praias e Mais Passeios.

Cultura Maranhense: O Bumba Meu Boi

Mais uma das atrações de São Luís que encanta todo mundo que chega por lá. O foco são as festas juninas, por ser relacionado diretamente com a devoção a São João, São Pedro e São Marçal. Entretanto, em qualquer época do ano é possível encontrar uma festa de boi.

A tradição da festa remonta ao século XVIII. A dança sempre conta uma mesma história, com algumas variações: um senhor fica fulo da vida com seu escravo por ter matado o seu boi.

Na verdade o escravo estava atendendo a um desejo da esposa do senhor, que queria comer língua de boi. No final da representação, conseguem a muito custo ressuscitar o boi e todos dançam e celebram.

O Bumba Meu Boi já sofreu perseguição por ser uma festa da parte pobre da população. Porém hoje em dia se tornou algo super democrático.

Os ludovicenses tem um orgulho enorme dessa tradição. Basta a primeira matraca começar a tocar que já cai todo mundo na dança.

Cultura Maranhense: Festas Juninas em São Luís

O São João é fortíssimo e lindíssimo em São Luís. Assim como as festas de São Pedro e São Marçal. Não tem nada a ver com as festas juninas nordestinas, com forró e quadrilha. Na Ilha do Amor o ritmo completamente predominante é o Bumba Meu Boi (ou só Boi para os íntimos).

As festas duram o mês de junho todo e com certeza é o melhor período para visitar São Luís, especialmente no fim do mês. A noite de São João, do 23 para o 24, é linda demais, com Boi em todo canto da cidade, celebração e festa.

Mas nada se compara à festa que começa na noite de São Pedro, do dia 28 ao 29. Pra quem é forte e festeiro, tem Boi até o dia 30, quando acontece o Encontro dos Batalhões de Bumba Meu Boi, na Avenida São Marçal.

No São Pedro, vários Bois saem desde a Casa das Minas, um terreiro de religião afro que ainda mantém tradições de culto a divindades denominadas voduns, e vão em procissão até a Capela de São Pedro. Enquanto isso a cidade se enche de fogueiras e outras batucadas e Bois. O negócio todo é extremamente lindo e animado.

Já no dia de São Marçal, os Bois de matraca se encontram na Avenida São Marçal para uma festa de cunho mais popular, já que é num bairro de periferia, longe dos turistas e da elite da cidade. Esses Bois tem um estilo mais pesado e percussivo. Aí se celebra o fim das festas de junho.

Cultura Maranhense: Tambor de Crioula

O tambor de crioula é patrimônio cultural imaterial do Brasil. Esse ritmo, que também se ouve por todos os cantos do centro histórico, consiste de três tambores de tamanhos diversos, com o maior fazendo cortes bem graves e pesados. Gostoso de se ouvir, mas principalmente de ver (e dançar pra quem é de dança, claro).

Começa com uma fogueira sendo acesa para esticar o couro dos tambores. Depois as mulheres e os homens que quiserem vestem saias rodadas para poderem rodopiar ao som do batuque. O clima é de muita descontração. Existem as exibições para os turistas, mas os legais mesmo são os de pegada mais popular.

Onde Ver e Dançar Tambor de Crioula

No Reviver (Centro Histórico) é difícil passar uma noite sem nenhum Tambor de Crioula acontecendo. Basta ficar de ouvido aberto. Os grupos se apresentam principalmente nas praças Faustina e Nauro Machado.

Casa do Tambor de Crioula

Uma novidade no centro histórico é a Casa do Tambor de Crioula. Tem um espaço contando uma breve história do ritmo e acontecem muitas atividades de oficina e coisas afins, além de exibições. Essas têm um pouco menos de “alma”, por ser num lugar fechado. Ainda assim é muito bonito de ver.

Visitamos a Casa do Tambor de Crioula tanto à noite, para ver uma apresentação, quanto de dia, para ver a exposição, e contamos em outro post como foi. Acesse aqui: São Luís do Maranhão: Centro Histórico, Praias e Mais Passeios.

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Cultura Maranhense: Cacuriá – Dança Típica do Maranhão

Esse é um ritmo menos conhecido por quem visita São Luís, mas é muito engraçado e dançante. É mais fácil de ouvi-lo durante as festas juninas. A sua maior expoente, Dona Teté, era uma senhora desbocada e divertida. Lembra muito o samba baiano, mas todas as letras são de conteúdo sexual.

Datas de Festas e Festivais em São Luís do Maranhão

São João, São Pedro e São Marçal

Junho é definitivamente o melhor período para se estar em São Luís. Os festejos duram o mês inteiro, mas seu auge é na noite de São Pedro, de 28 para 29 de junho, com o cortejo dos grupos de Bumba Meu Boi, indo desde um terreiro de religiões voduns chamado Casa das Minas até a Capela de São Pedro. É de arrepiar qualquer um.

Emende com a festa de São Marçal, no bairro do João Paulo na tarde do dia 30. É simplesmente um encontro de vários Bois descendo a avenida e celebrando o fim do mês. Um ritmo bem mais pesado, pois aí se concentram os Bois de matraca, com menos instrumentos de sopro e muito mais percussão. Assim como a noite de São Pedro, a festa de São Marçal também é uma festa mais popular, por muito tempo recebendo o status de ilegal. Era festa de pobre, e à elite ludovicenses isso não agradava muito.

A noite de São João (23 para 24 de junho) também é linda e cheia de festas espalhadas pela ilha, assim como o resto do mês inteiro.

Festa do Divino Espírito Santo

A segunda maior festividade do Maranhão, acontece na cidade de Alcântara, a uma hora de barco de São Luís. Era pra ser um evento religioso. Mas como tudo no Brasil, termina numa grande festa, originalmente conduzida pelas caixeiras do Divino. O ritmo cacuriá teve origem nesses “pós-festas”.

Hoje em dia, se o interesse for a parte religiosa, tem que chegar mais cedo. Quando a noite cai, é reggae e batucada pra todo lado.

A festa ocorre no finzinho de maio, quase que emendando com as festas de junho.

Festa da Juçara do Maracanã

A relação do maranhense com o açaí é tão forte que lá ele recebe um nome específico: Juçara.

A Festa da Juçara é outro festejo bem grande, em homenagem à fruta. Ocorre no bairro rural chamado Maracanã e costuma ter a presença de grandes nomes locais, como grupos de Bumba Meu Boi, grupos de carnaval, comediantes e outros artistas maranhenses. Acontece nos fins de semana de outubro, que é o mês fértil para a juçara.

Na verdade, juçara é o nome de uma palmeira que se assemelha bastante ao açaizeiro e que é típica da Mata Atlântica. Tecnicamente, não existe juçara natural no Maranhão. O que eles chamam de juçara é o açaí mesmo. Mas nem tente entrar num debate desse com um ludovicense, porque eles tentarão de toda forma te explicar que a juçara maranhense é diferente do açaí. Pra mim eu só quero saber que é delicioso mesmo.

Carnaval de São Luís

Bem, o carnaval em São Luís não é como o do Rio, Salvador ou Olinda. Longe disso, já que nunca houve muito investimento nessa festa. Porém o pré-carnaval em São Luís pega fogo. Muitos eventos de samba, bois e ritmos típicos tomam conta da cidade.

Aos domingos a Feirinha da Benedito Leite começa às 8h e a festa segue direto até o fim a noite, tanto no Tambor de Crioula do Mestre Amaral quanto nos sambas da Madre Deus.

Conheça mais da cultura maranhense assistindo o vídeo que gravamos por lá, no qual contamos muitas curiosidades e histórias:

O Maranhão é parte da Rota das Emoções junto com o Piauí e o Ceará.

Leia mais aqui no blog sobre os Lençóis Maranhenses, Delta do Parnaíba, Jericoacoara e Fortaleza, alguns dos principais destinos para conhecer nesse roteiro.

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