CouchSurfing: O Que é e Como Funciona + Nossas Experiências

É consenso entre os usuários que o CouchSurfing já teve seu momento de esplendor, mas as muitas outras ferramentas de hospedagem que surgiram por conta do boom do turismo e da tecnologia no mundo, além de algumas más opções administrativas dos donos do site, fizeram o uso dessa comunidade diminuir bastante e se desvirtuar bastante do propósito inicial.

O que é o CouchSurfing

O Projeto Couchsurfing (em inglês, algo parecido com “Surfe de Sofá”), ou simplesmente CS, é uma comunidade de troca de experiências entre viajantes existente desde 2003. Seu propósito inicial era de você poder hospedar e se hospedar com “estranhos” ao redor do mundo, baseado somente na confiança e troca, sem envolver dinheiro.

A equipe de trabalho do CouchSurfing era composta toda por voluntários. Eles eram responsáveis pela tradução do site, seção de reclamações, mídia e outras tarefas, sem receberem nada. Tudo em prol da comunidade. Funcionou muito bem assim durante muito tempo. Mais ali embaixo eu explico sobre algumas mudanças no CS nos últimos anos.

Como Funciona o CouchSurfing

O host (palavra em inglês para anfitrião) é a pessoa que está hospedando algum viajante; e o guest (hóspede, em inglês) é a pessoa que está sendo hospedada pelo host.

Na prática funciona assim: você cria um perfil no site, com suas informações, seus livros favoritos, bandas, filmes, suas experiências de viagem, fotos, seus gostos pessoais e quaisquer outras informações legais. É importante completar bem seu perfil e colocar fotos que mostrem seu rosto, afinal um perfil vazio e sem fotos (ou com fotos muito de longe) não transmite confiança.

O Marco foi meu primeiro hóspede no Brasil, depois eu fui até Luxemburgo pra ficar na casa dele também

Uma configuração à qual você sempre tem que estar atento é se você está disponível para receber viajantes. Se essa opção estiver ligada, qualquer pessoa da comunidade que estiver indo pra sua cidade pode te mandar uma mensagem explicando o porquê ela quer ser seu guest. Daí você aceita ou não, após dar uma lida no perfil da pessoa e ver se pode ser uma boa experiência recebe-la.

A mesma regra vale pra quem busca um host: ler atentamente o perfil da pessoa antes de enviar um couch request (pedido de sofá).

Referências no CouchSurfing

Cada pessoa que te hospeda ou é hospedada por você deixa uma referência positiva ou negativa. Essa referência e as outras que você vier a receber ficam visíveis para todos os membros da comunidade. Você pode também colocar links no seu perfil para sua conta do Facebook ou outras redes sociais para que seu perfil se torne mais confiável. Com o passar do tempo você vai acumulando referências e se tornando mais ativo na comunidade.

Convidar Viajantes

Hoje em dia a pessoa que quer hospedar alguém pode procurar por viajantes que estejam vindo pra sua cidade.

Essa ferramenta é muito interessante, pois em vez de ficar esperando um couch request, você que envia uma mensagem pro viajante oferecendo pra ficar na sua casa.

Essa é uma boa forma de ganhar experiência na comunidade.

Encontros do CouchSurfing

Um pouco depois da criação da comunidade, começaram a surgir os meetings (encontros) locais. E eles existem até hoje, alguns bem grandes. Nesses meetings os membros do CS podem entrar em contato com outros hosts de sua cidade e levar seus guests. Se você não é um host nem um guest, também pode ir aos meetings só pela farra e pra conhecer gente.

Os meetings são um ótimo lugar para os que estão começando no CS, mostrando a cara pros outros membros da sua cidade, adicionando amigos no seu perfil e trocando referências. Quanto mais amigos e referências, mais bem visto você será dentro do CouchSurfing, aumentando as chances de receber guests ou de encontrar hosts.

Grupos do CouchSurfing

Em cidades maiores, é comum encontrar grupos no Facebook e no Whatsapp do CS local. Esses grupos são úteis principalmente para quem busca couch de última hora ou está procurando conhecer pessoas que moram em uma cidade.

Por exemplo, se você estiver de mudança para uma cidade e quiser conhecer gente, fazer novos contatos, os grupos são um ótimo lugar. Mesmo as pessoas que não são tão ativas na plataforma do CS podem estar dispostas a te conhecer.

Nossa Experiência no CouchSurfing

Nós usamos o CouchSurfing desde 2009 (eu) e 2012 (ela). Nós temos, cada um, quase 100 referências, fora as que sumiram com o tempo por conta de mudanças no sistema. Às vezes você recebe um grupo de pessoas na sua casa, mas só uma delas deixa referência. Ou deixa referência só pra uma das pessoas do casal. Somando com todas as pessoas que encontramos em meetings, dá pra dizer facilmente que conhecemos pra mais de 300 pessoas através da comunidade.

couchsurfing o que é
Conhecemos 2 asiáticos pelo CS e viajamos juntos a Islândia inteira

Aliás, nossa história de amor começou pelo CouchSurfing, nos idos anos de 2012. O CS não é pra isso, mas quando duas almas gêmeas se encontram, nada pode evitar a união delas (leia isso tocando o tema da novela “Por Amor” no fundo).

Já hospedamos (juntos ou separados) pessoas do mundo todo: Guiana Francesa, Hong Kong, Taiwan, Austrália, Turquia, EUA, Cazaquistão. Já conhecemos gente do mundo todo em meetings. Temos grandes amigos até hoje feitos pela comunidade. O CouchSurfing é maravilhoso.

Como é Hospedar/Ser Hospedado Pelo CS

Lembro da minha primeira experiência hospedando alguém do CS, na época em que morei em Portugal. Não foi boa, mas também não foi ruim. Eu não falava inglês direito e recebi uma polonesa em casa. A gente mal se falou, porque ela chegou muito cansada e foi dormir bem cedo. No outro dia, ela disse ter encontrado um amigo e foi pra casa dele. Felizmente, essa experiência não me fez abandonar o CS, e daí pra frente foram só experiências que variaram entre excepcionais e boas.

Existem pessoas de absolutamente todo tipo no CouchSurfing. Já ouvi histórias de gente que ficou hospedada num quase-palácio em algum país do Oriente Médio; de gente que se hospedou com adeptos do naturalismo, ou seja, teve que ficar o tempo todo pelada na casa do host; de gente que mal viu o host e ficou com a casa inteira à sua disposição; de gente que foi guest em uma comunidade hippie; de gente que foi guest de caras super ricos que o passatempo deles era passear pelos clubs de altíssimo luxo da cidade exibindo seu Lamborghini; de gente que teve o carro emprestado pelo seu host pra conhecer a cidade; e por aí vai.

Ou seja, a verdade é que nunca dá pra saber como será a experiência como guest. No entanto, quando o host tem algum hábito importante de ser apontado, ele costuma indicar no seu perfil. Muita gente usa esse espaço pra dizer que é homossexual, vegano, ativista de alguma causa política, músico (e que vai fazer muito barulho), que dorme cedo, que dorme tarde, que trabalha cedo e você terá que sair de casa com ele, fumante, usuário ou não de drogas. Como eu disse, há gente de todo tipo no CS. De verdade.

couchsurfing o que é
Camping num festival sérvio organizado por um membro do CS

Após ler o perfil do host, já dá pra ter uma ideia do que esperar. E o plano de fundo do encontro entre você e a outra pessoa é a confiança em um estranho e a vontade de trocar experiências culturais. Partindo daí, normalmente as experiências são maravilhosas. Quem experimenta essa sensação de total confiança de um estranho não quer mais largar a comunidade. É lindo demais.

“Regras” no CouchSurfing

Já se você vai ser o host, a primeira regra é “minha casa, minhas regras”. E essas regras, caso haja alguma, você vai apontar no seu perfil. Uma regra que eu sempre gostei que seja respeitada na minha casa era “faça primeiro, pergunte depois”. Pois muitos guests perguntam tudo, se podem usar o fogão, se podem tomar banho, essas coisas. Pra deixá-los mais à vontade, criei essa regra.

Há gente que estipula uma série de regras, outras que são bem flexíveis. É sempre importante colocar isso no seu perfil. Assim como escrever onde a pessoa vai dormir, se vai ser no meio da sala com gente passando o tempo todo, se vai ser numa cama, se tem que levar o saco de dormir dela, se vai ter cozinha, se pode fumar dentro de casa, se haverá crianças ou animais, essas coisas. Toda informação é útil pra que o guest encontre o melhor host e vice-versa.

E a regra que absolutamente todas as pessoas do CS seguem é a do respeito mútuo. Uma pessoa que falta com o respeito de alguma forma receberá referências negativas, e assim ela não conseguirá mais conseguir um guest ou host. Uma pessoa ter muitas referências positivas significa que ela trata bem seus hosts e guests.

E Como Está o CouchSurfing Hoje em Dia?

Como disse lá no começo do post, o CouchSurfing sofreu algumas mudanças com o passar do tempo. Uma delas é: algumas pessoas deixaram de hospedar de graça, migrando para sistemas como o AirBnB. Ou seja, aquele quartinho que era usado para receber os membros do CS agora está sendo usado para gerar uma renda extra.

Aconteceu também que, lá pelo ano de 2014, alguns dos donos antigos do site resolveram sair do projeto e venderam sua parte. O dono novo, muito empreendedor, resolveu fazer dinheiro com o site. As diferenças puderam ser sentidas por todos os usuários, o que motivou a saída de muitos deles, principalmente o pessoal mais alternativo.

Por conta dessa mudança de visão, o perfil dos membros mudou um pouco, atraindo muita gente que tem usado o CS como uma espécie de Tinder para viajantes. Há cidades onde o CS local é reconhecidamente usado para encontros românticos, especialmente gays.

Membros Verificados

Pra evitar isso e outros tipos de abuso, hoje em dia o envio de couch requests para membros não verificados (para ser verificado é necessário pagar, outra mudança que não agradou nada aos usuários mais antigos) é limitado a 10 por semana. Alguns membros dizem que a qualidade dos couch requests melhorou, mas isso não impediu a fuga de outros membros que não gostaram da mudança.

Ainda assim a comunidade está funcionando bem. Os números atuais na verdade são maiores do que os da “época de ouro” do CS. Nas cidades grandes os meetings continuam tendo uma grande presença. No Rio de Janeiro, por exemplo, já teve meeting com 200 pessoas. Em Paris, os meetings semanais são muito famosos também. Algumas cidades têm mais de um meeting por semana.

Passamos quase um mês na casa de uma amiga feita pelo CS em Portugal

Como nós gostamos mais de hospedar do que ser hospedados, ultimamente temos usado pouco o CS em busca de hosts. Mas em toda cidade nova tentamos contato com os membros ou comparecemos aos meetings. O clima de confiança entre estranhos convivendo em harmonia é algo que toca fundo na alma.

Alternativas ao CouchSurfing

Já faz tempo que nós, usuários antigos do CS, sentimos com as mudanças na comunidade, o que nos levou a buscar alternativas. Algumas são:

TrustRoots

O TrustRoots (TR) é a comunidade de viajantes que mais vem crescendo, servindo de uma boa alternativa ao CouchSurfing. Apesar de não contar com os meetings locais, o TrustRoots recebeu boa parte dos usuários mais alternativos do CS. Esse site toma muito cuidado para que não se repitam os erros cometidos pelo CS, mantendo a comunidade sempre como gratuita e sem se tornar super popular.

O ponto negativo é que tem bem poucos usuários, principalmente se comparado com o CouchSurfing (são 30 mil usuários no TR, enquanto são mais de 15 milhões no CS, dos quais 400 mil estão ativos hospedando). Nas cidades pequenas é muito raro ter alguém do TR, e mesmo nas cidades grandes encontram-se no máximo 10 hosts, quando muito.

Porém a comunidade vem investindo em recursos tecnológicos e melhorias. Eles já têm até aplicativo pra celular, além do site ser mais amigável do que o do CS. Se quiser fazer parte dessas mudanças, siga a página deles no Facebook, onde esses assuntos são sempre discutidos.

O site originou-se de uma comunidade de caroneiros (hitchhikers, em inglês). Apesar disso, hoje em dia o TrustRoots é voltado para todos os públicos. Inclusive, durante o cadastro, você escolhe algum grupo com o qual se identifica (Músicos, Nômades Digitais, Artistas de Rua, etc.) e isso facilita encontrar um host ou guest que combine mais contigo.

Definitivamente o TrustRoots é a melhor alternativa para comunidades de hospedagem atualmente.

BeWelcome

O BeWelcome é um velho “concorrente” do CouchSurfing. Desde o início, houve sempre uma leve debandada de usuários do CS descontentes com as novas políticas da comunidade. O destino deles normalmente era o BeWelcome. Porém essa comunidade meio que parou no tempo.

O layout do Bewelcome é horrível, o site em si nada intuitivo e não há notificações para mensagens novas, obrigando o usuário a sempre conferir sua conta no site.

Hospitality Club

O Hospitality Club (HC) é a comunidade de viajantes mais antiga ainda ativa na Internet. Honestamente, nunca usei, porque o site parece ser bem pouco funcional. Tampouco, nesses meus muito anos de viagem, ouvi pessoas falando a respeito. Mas tá lá ainda.

Warm Showers

Essa é uma comunidade da qual já ouvimos muita gente falar, mas nunca usamos. O grande propósito dela é a hospedagem de ciclistas viajantes.

Se você não for ciclista e quiser participar, você pode ser anfitrião desses ciclo viajantes.

A Victória nos hospedou em Valdívia, Chile

Camp In My Garden

Comunidade de acampamento no jardim de alguém. Alguém tem um jardim e você tem uma barraca. Daí você entra em contato com essa pessoa pelo site, negocia um preço e pronto. O cadastro no site é grátis.

WorkAway

O WorkAway também é uma ferramenta paga, mas o dinheiro gasto se paga rapidinho. Basicamente é um site onde você troca sua força de trabalho por hospedagem, comida e outras comodidades, a combinar.

Há trabalhos em todos os lugares do mundo, ou seja, você pode passar um mês de graça trabalhando algumas horas por dia num hostel em Bariloche ou numa fazenda em algum paraíso escondido na Irlanda. Fizemos um post específico sobre o WorkAway, clique aqui para ler.

Outra opção é o Worldpackers. Leia mais sobre ele no blog Apure Guria: Worldpackers: É confiável? Como funciona? Vale a pena?

Trusted HouseSitters e MindMyHouse

Esses são sites nos quais você se cadastra (o preço do cadastro normalmente é um pouco salgado) e pode usar o site livremente. O propósito aqui é tomar conta de uma casa enquanto o dono está viajando. Você fica com a casa inteira para si e ainda ganha um abastecimento de comida durante o tempo de viagem do dono. Muito relacionado também a tomar conta de animaizinhos de estimação também.

Acabei dormindo com nosso host na Argentina

É uma ótima opção, mas conseguir se tornar uma pessoa “confiável” no site exige um pouco de esforço. Esforço esse que vale para poder passar um mês num interior paradisíaco da Noruega tomando conto de algum bichinho fofo de graça.

Gostou do nosso texto? Não esqueça de deixar um comentário contando pra gente se você já usou alguma dessas comunidades ou se conhece outra!

E já que o assunto é hospedagem, o blog Mochilão a Dois listou 5 motivos pelos quais mochileiros não podem ficar em hotéis 5 estrelas. Eu concordei com todos!

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12 comentários em “CouchSurfing: O Que é e Como Funciona + Nossas Experiências”

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  2. Muito bom ler o ponto de vista de você sobre o Couchsurfing, principalmente sobre as mudanças. Eu nunca usei e gostei bastante da visão e opinião sem ser romantizada, embora a plataforma continue sendo uma ótima opção. E sobre as alternativas a ele, confesso que eu não conhecia nenhuma delas, nem sabia que havia uma alternativa. Adorei e já anotei os nomes aqui! rs

  3. Pingback: Viajar o mundo de graça: 10 dicas imperdíveis para você ir viajar agora

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